26.8.09

As orelhas humanas não têm aspecto muito agradável

Uma das atrações da 7ª Bienal do Mercosul: Grito e escuta, que acontece em Porto Alegre de 16 de outubro a 29 de novembro, será a Radiovisual, projeto que, entre outras funções, cumprirá a de levar ao público obras sonoras especialmente concebidas (por músicos, poetas, cientistas, artistas visuais etc.) em homenagem a John Cage e sua histórica 4’ 33”.

Convidado a participar por Lenora de Barros, cocuradora do projeto, compus uma “vocografia” que tem como título uma das frases do velho livro sobre acústica a partir do qual monto uma sessão de leitura aleatória – em que a única “regra” é fazer o olhar saltar de página em página, em busca de novas frases ou palavras, mas mantendo até o fim a inflexão vocal adotada no início: As orelhas humanas não têm aspecto muito agradável.  

Depois de gravar três versões em tons e velocidades diferentes, reprocessei-as no software Ableton Live – que passei a utilizar, primeiro, com o pensamento voltado para as performances –, com o fim de destacar determinados eventos sônicos que, de outra forma, passariam despercebidos.

Preparo, agora, uma versão da peça que pretendo executar em Maceió, no dia 19 de setembro. Nela, os 3 minutos da versão “original” (como falar em origem, hoje, sem abrir aspas, meu Santo Estefânio?!) são picotados em fragmentos de duração variável e disparados em modo randômico de um cd-player, para que estabeleçam um contraponto desafiador ao novo sortimento de frases nonsense que seguramente advirá de minha (a)le(a)itura.

25.8.09

Um do André Vallias

O canto noturno do Internauta ou Minos é Mais (2006). Outros inventos de AV, aqui. E aqui.

24.8.09

Paulo Leminski

Quer saber onde encontrar o mais amplo rol de informações (vídeos, áudios, fotos e tal) sobre o poeta, neste dia em que ele completaria 65 anos? Um clique e você está lá.

22.8.09

Convocatória


KOLECTIVO ULTRAKAUTIN convoca a todos los creadores del tercer planeta a participar de la edición 2010 del Festival Internacional de Videoarte ZONA 9.
Una vez más, extendemos la invitación a tomar la cámara digital, el teléfono, la miniDV o lo que gusten y sumarse a este ciberencuentro.

CONVOCATORIA 2010:

ZONA 9 se plantea como una obra de colaboración en red destinada a difundir, retroalimentar y promover la videocreación y el ciberarte, aglutinando el trabajo de artistas de todo el mundo que utilizan el vídeo para crear, narrar, animar, documentar y difundir sus acciones, delirios y performances; la idea es converger en el azar y el medio generando un set audiovisual de carácter colectivo que habrá de ser “descargado” (de lo virtual a lo real) en diversas localidades periféricas del sur de Chile, Centros Culturales y Universidades mediante proyecciones a cielo abierto y videointervenciones que se sucederán a contar de enero de 2010. [+ info]

21.8.09

Deu no blog do Galeno Amorim

Um fundo só para a literatura
Postado por Galeno Amorim - 20/8/2009

Na proposta de modificação da Lei Rouanet que o Ministério da Cultura fará chegar, nos próximos dias, ao Congresso, uma novidade: o governo incluirá a criação de um fundo setorial de literatura. Nos mesmos moldes previstos para outras áreas criativas. Atende, assim, à postulação do aguerrido Movimento Literatura Urgente, que já conseguiu enfiar a expressão “Literatura” em diversas políticas públicas federais.
Com isso, o outro fundo – aquele bancado com as contribuições do mercado editorial – deverá financiar, principalmente, o fomento à leitura, o acesso aos livros e o desenvolvimento da cadeia do livro, além de estudos e pesquisas.

Recordação

20.8.09

Quem quiser ler que leia o leitor

1.

O performador,

no meu projeto pessoal

de criação,

é um tipo de leitor que

se dá a ler,

ao assumir e expandir

a condição performativa

da leitura.

2.

Como uma espécie

de TJ (text-jockey,

para jogar

com terminologia

cara à cultura

contemporânea),

valho-me em cena

de uma multiplicidade

de fontes textuais,

as quais aciono

a partir de três linhas

básicas – que podem,

inclusive, ser conjugadas

entre elas:

1) oralização a partir

de demarcações

previamente indicadas

nos "textos-partituras";

2) improvisações

vocais (com ou sem palavras),

ao longo da performance,

em resposta a estímulos

provocados pelos

demais elementos

dispostos no ambiente

(vídeo, ruidagem,

layout do palco,

maior ou menor

participação

da plateia etc.);

3) improvisações

vocais/corporais

sobre fragmentos

escolhidos aleatoriamente

em livros espalhados

pelo palco,

vozes pré-gravadas

(a minha própria

e/ou a de

outros poetas,

ou, ainda,

a de anônimos,

sampleadas do rádio,

da TV ou da web)

e field recordings

que reprocesso e

disparo em um laptop

(direto no aparelho

ou por meio de um

controlador MIDI).

3.

Já não há razão para falar

em work in progress,

com relação ao que eu faço.

Não há progresso,

nunca houve.

Eu nem bem comecei. 

 

19.8.09

Deu no "Estadão" de hoje

19/08/2009

Nova Rouanet terá fundos para artes cênicas e literatura


Estadao - Jotabê Medeiros







A nova Lei Rouanet, o texto que incorpora sugestões de mais de 2 mil produtores de todo o País, vai chegar ao Congresso este mês bastante encorpada. O Estado teve acesso exclusivo às principais modificações. Em vez de cinco novos fundos de financiamento direto à cultura, serão agora sete - foram criados também o Fundo das Artes Cênicas e o Fundo da Literatura e das Humanidades (que não existiam no projeto original).

A criação do Fundo das Artes Cênicas foi resultado direto da pressão das categorias ligadas ao teatro e dança no Ministério da Cultura. O Fundo da Literatura e das Humanidades atende a pedidos de grupos como o Movimento Literatura Urgente, que pedia a separação da produção literária do mercado editorial.

O cinema dos documentaristas, curtas-metragistas e os festivais não terá um fundo específico, como pleiteava. Mas terá cadeira cativa no conselho do Fundo do Audiovisual, que terá dois conselhos gestores, um para o cinema industrial e outro para o independente. Dois sistemas de gestão paralelos, considera o Ministério da Cultura, permitirão que o cinema "de formação do olhar, de formação de quadros" também possa ser subsidiado (atualmente, os documentaristas e curtas-metragistas se queixam que não conseguem nem ser recebidos pelos departamentos de marketing das empresas).

O texto definitivo, que será agora debatido pelo Congresso, traz ainda outras novidades. Cerca de metade do dinheiro (fala-se em 47%) arrecadado pelo Fundo Nacional de Cultura vai ser obrigatoriamente repassado a Estados e municípios. Mas é um dinheiro "carimbado", ou seja, não poderá ser utilizado em despesas de custeio dos Estados e municípios - terá de ser necessariamente transferido a artistas e produtores por meio de editais públicos.

Outra novidade diz respeito ao "dirigismo cultural". Um dos artigos da nova legislação veta explicitamente a análise subjetiva e garante a impessoalidade no sistema de avaliação. O Ministério da Cultura instituiu há pouco mais de um mês um concurso de pareceristas para dar mais agilidade ao processo de análise de projetos. Conseguiu a inscrição de 500 novos analistas, e também está criando, na nova lei, um mecanismo novo - o sistema de avaliação entre pares.

O sistema entre pares consiste no seguinte: ao entrar com um projeto no Ministério, o produtor pode ser convidado para avaliar um outro projeto de sua própria área, integrando um comitê de avaliação. O modelo é do sistema universitário, da Fapesp, e os pareceres dos analistas serão a base das decisões do Fundo Nacional de Cultura.

A Comissão Nacional de Incentivo Cultural (CNIC) continuará existindo, mas atuará muito mais como um órgão de inteligência, semelhante ao conselho da Fapesp, instituição que é o modelo da nova legislação. O Ficart (Fundos de Investimento Cultural e Artístico), fundo de capitalização da Lei Rouanet, receberá mecanismos de maior atratividade para as empresas. O Ministério considera que o setor privado deve entrar com um patamar mínimo de investimento, e vai convidar os empresários para se associarem ao MinC em projetos de visibilidade comercial. O fundo financia uma parte, o empresário outro, e a possibilidade de lucro será atrativa, analisa o governo.

O secretário executivo do Ministério da Cultura, Alfredo Manevy, confirmou as mudanças apuradas pela reportagem, e acrescentou que a nova Lei Rouanet trará a palavra "critério" como um dos maiores símbolos da mudança. "Não havia essa palavra na Rouanet antiga. Isso serve para que não se crie um vazio duvidoso. Os critérios para a aprovação de um projeto estarão definidos na lei, e partem de exigências como acessibilidade, preço, a estratégia de oferecimento ao público do produto cultural. Preço, horário, local de apresentação: tudo isso vai pesar na análise do custo de um projeto que será abatido com dinheiro público", afirmou.



18.8.09

BHZ/MCZ

Já dei partida, na cabeça e no coração, ao “projeto Maceió 2009”, forma carinhosa como defino meu retorno à linda capital alagoana, entre os dias 16 e 20 de setembro, para ministrar o workshop Palavra : imagem : corpo : som (apenas para os integrantes do grupo Folia das Letras) e apresentar a performance intermídia Nem uma única linha só minha. No workshop, mostrarei aos participantes alguns dos exercícios que inventei para construir as passagens entre os códigos que compõem o (sempre instável) livro-ambiente a que dou o nome de performance.

Nem uma única linha só minha, por seu turno, é um trabalho que tive oportunidade de montar apenas em São Paulo, no ano passado, em duas ocasiões diferentes. Motivado pela alegria de poder performar pela primeira vez no Cine SESI Pajuçara, em sua reabertura, após um breve período de reformas, oferecerei ao público de MCZ um repertório repleto de peças audiovisuais que citam explicitamente o cinema e alguns dos cineastas que fazem parte do meu universo de referências poéticas.  

Outra novidade é que, com tempo suficiente para planejar, roteirizar com calma e ensaiar, vou incluir na performance alguns números em que me acompanho ao violão. Voltei a tocar o instrumento em público nos EUA, em 2006, e desde então penso na melhor forma de fazê-lo mais amiúde sem criar (muitos) atritos com a sonoridade eletrônica que predomina nos meus trabalhos recentes. É isso. Depois conto mais.

16.8.09

América 3 x Brasil de Pelotas 1

Alegria de pai torcedor do Coelhão: Iná, ao chegar do Estádio Independência, agora há pouco.

14.8.09

Com Jorge


Se alguém perguntar por mim, diz que eu tenho andado na cola do artista plástico Jorge dos Anjos, filmando-o em seu ateliê, nós dois rindo de tudo o tempo todo. Quem chega perto nem pensa que é trabalho, mas é, sim, podem acreditar: meu primeiro vídeo-documentário, que registra a impressionante performance de Jorge na confecção das obras de sua nova exposição, A ferro e fogo, a ser inaugurada em outubro, na Galeria AM. Jorge dos Anjos, não é demais repetir, é o maioral, pelas bandas brasílicas do Atlântico Negro, quando se trata de resistência ativa (= força-invenção). Quem, por acaso, tiver dúvidas a respeito, que aguarde a nova série de trabalhos, realizados com ferro incandescente sobre feltro.

PS (enorme) roubado de uma resposta dada pelo cineasta Carlos Reichenbach ao também cineasta (e pesquisador) Carlos Adriano, em entrevista publicada há tempos na revista eletrônica Trópico: "Brincando de radicalizar, afirmo que daqui para frente só irei respeitar e admirar os criadores que tenham tido enfarte ou alguma doença séria, que tenham penhorado um dia a própria casa, que tenham colecionado títulos protestados, que tenham sido sustentados pela mulher em alguma ocasião da vida conjugal, que tenham sido abandonados pelas amantes e/ou tenham amado duas mulheres ou mais mulheres ao mesmo tempo, que tenham alçado o topo da montanha e descido ao fundo do poço e, sobretudo, que tenham conhecido de perto e na própria pele: a fome, a gula, a sede, o porre, a miséria, o desterro, a glória, a falência, a fartura, o desprezo, a paixão, o sucesso, o fracasso, a intolerância, o ciúme etc. etc. etc. A vida experimentada em sua plenitude é o maior manancial da criação."